Tudo começou com um colégio…

Impressões do Brazil no Seculo Vinte - reprodução: site Novo Milênio

Imagens do Colégio Anglo-Brasileiro: praia, prédio do colégio e vista com o Dois Irmãos ao fundo (reprodução do livro Impressões do Brazil no Seculo Vinte retirado do site Novo Milênio)

O que pode ser mais inspirador para um bairro do que ter início em um colégio? Tudo bem que ele não era exatamente um exemplo de inclusão social, mas o Gymnasio Anglo-Brazileiro, mais tarde Colégio Anglo-Brasileiro, deu início à ocupação do morro.

Foi o inglês Charles Wicksteed Armstrong (sim, o primeiro investidor do Vidigal era um gringo!) quem fundou a sucursal fluminense do Gymnasio em Niterói (já havia uma unidade em São Paulo), transferida para o Rio de Janeiro em 1911. O local escolhido foi a “Chácara do Vidigal”.

O colégio para meninos abastados se instalou em uma área com temperatura amena, graças à vegetação farta, mas também próxima ao mar, a poucos metros da então exclusiva Praia do Colégio Anglo Brasileiro (hoje Prainha do Vidigal). As fontes de água eram abundantes e havia uma delas próxima ao portão da instituição, onde décadas depois os moradores continuavam a abastecer suas casas.

O livro Impressões do Brazil no Seculo Vinte, editado na Inglaterra em 1913, assim descreve o local: “Magnificamente situado, 300 pés acima do nível do mar, o edifício tem uma soberba vista sobre o oceano. O cenário é grandioso, havendo aos lados a floresta virgem e atrás a majestosa montanha dos Dois Irmãos”.

A educação priorizava os exercícios ao ar livre e a preparação dos jovens para as universidades “inglesas, americanas e brasileiras, havendo cuidado especial no ensino de línguas modernas”. Todos os dias, às 7h da manhã, os alunos desciam para a praia e tomavam um banho de mar, na época considerado muito mais uma terapia do que um lazer.

Alunos do Colégio Anglo Brasileiro: atividades ao ar livre como prioridade

Abrindo os caminhos
A presença do Gymnasio, hoje ignorada pela maior parte dos moradores, foi fundamental para a abertura da Avenida Niemeyer, iniciada em 1891 para ser uma estrada de ferro que ligaria o Rio de Janeiro a Angra dos Reis. A obra foi abandonada e, em 1912, Armstrong aproveitou parte de seu leito para fazer a ligação com o Leblon, com um quilômetro de distância. Em 1916 o comendador Conrado Jacob Niemeyer seria o responsável por finalizar as obras da bela avenida beirando o mar, que levou seu nome.

A descrição do livro inglês ainda dá detalhes sobre os planos futuros do diretor da instituição: “O sr. Armstrong tenciona embelezar ainda mais a já formosa Chácara Vidigal, abrindo-lhe também novos caminhos e avenidas, de modo a torná-la um dos pontos mais belos da terra”.

Inauguração da Av. Niemeyer - Foto: Augusto Malta

Inauguração da Av. Niemeyer, 1919 – Foto: Augusto Malta

Apesar de ter sido vendido nos anos 1930 para o Colégio Stella Maris, o empreendimento de Charles Armstrong continuou a ser referência. Até o início dos anos 1970, poucos chamavam a comunidade de Vidigal. Quando perguntados sobre o endereço de casa, a resposta era: “moro no Portão do Anglo”.